Público exige e Kid Abelha volta aos palcos com a turnê Glitter de Principiante

Show estreia em Curitiba trazendo canções novas, diversos hits dos anos 80 em seus arranjos originais, e dá início às comemorações pelos 30 anos da banda de Paula Toller, George Israel e Bruno Fortunato

Chegou a hora.  Longe dos palcos desde o réveillon de 2006/2007, eis que agora o Kid Abelha decide retornar por aclamação do público e, por que não dizer, do próprio mercado.  Os fãs, ignorando este pequeno recesso da banda, continuaram comprando insistentemente o DVD Acústico MTV, lançado em 2002, e que em tempos de crise e pirataria na indústria do disco até agora já ultrapassou a inacreditável marca de 1 milhão de cópias.  Para se ter uma ideia do sucesso, foi o DVD brasileiro mais vendido de 2009 (100 mil unidades) e só neste início de 2011 vendeu mais 30 mil sem qualquer empurrão da mídia.  Por sua vez os telefonemas no escritório do conjunto eram insistentes.  Os contratantes queriam shows do Kid de qualquer maneira!  De fato, estava na hora de retomar o trabalho de uma das cinco bandas da Era de Ouro da geração 80.

O show Glitter de Principiante estreia dia 14 de abril no Teatro Guaíra em Curitiba, chega a São Paulo no Credicard Hall no dia 7 de maio e finalmente ao Citibank Hall carioca, no dia 14 seguinte.  São as três primeiras apresentações de gala da turnê, que em seguida vai percorrer diversas regiões do país e no futuro deverá virar DVD, de modo a dar início às comemorações dos 30 anos de carreira do grupo completos no ano que vem.  O diferencial é que neste show, pela primeira vez desde a estreia do Kid, não haverá um disco para promover.  “Precisávamos dar esse tempo para viver outras experiências”, diz Paula.  “E só queríamos voltar se o show fosse pura celebração.  Queremos tocar músicas de que gostamos, com toda tarimba q ganhamos em tanta estrada, porém com energia de quem está começando.  O público exige a nossa volta”.

Tocar, cantar e brilhar apenas pelo simples prazer do reencontro com os fãs também é o que justifica o título do novo show, Glitter de principiante, que parece combinar um pouco com a nova fase do país.  “A nossa geração batalhou muito para conquistar a democracia e a melhoria de vida.  O Brasil agora merece um pouco de glamour”, frisa a cantora.  O Kid também, como prenuncia a canção-título, composta por George e Paula especialmente para o novo show.  “Agora que acabou fevereiro e outras águas virão/ De repente deu uma febre de emoção sem freio/ Devaneios confiados à Yemanjá, pra já!/ Com você me sinto livre pra realizar”.  O prazer de voltar às raízes, da fase de tocar com garra, sem ter disco pra promover, apenas para conquistar, se confirma no refrão:  “Não vou levar a vida carregada de tristeza/ E deixar essa magia passar batida/ Reluzindo na vitrine/ Glitter de principiante/ Gloss de beijo de amante”.

Para a nova turnê, pelo menos onze hits do grupo que não entraram no Acústico MTV estarão no roteiro do show, incluindo vários dos primeiros discos dos anos 80 que há tempos o trio não entoava.  Para deleite dos fãs, estão de volta Seu espião, Alice, Garotos, Dizer não é dizer sim e Todo meu ouro, entre outras jóias pop iniciais, sem esquecer outras mais recentes como Em 92, Nada sei e a já célebre releitura da balada soul Na rua, na chuva, na fazenda.  Entre as novidades, além de Glitter de principiante, Toller e Israel compuseram ainda Veio do tempo – sobre a ansiedade adolescente, mas que traz uma afirmação q poderia muito bem ser o lema atual:
Eu continuo fervendo!

Repertório ousado

Muito peculiar a trajetória do Kid Abelha.  Curiosamente é o único grupo expressivo de sua geração com uma vocalista mulher naquele incrível Clube do Bolinha do meio roqueiro e da própria crítica especializada.  O Kid também foi o único a assumir que queria, acima de tudo, agradar ao público desenvolvendo seu lado mais “pop” e radiofônico.  Nem por isso deixou de tocar em questões importantes em suas letras deliciosamente diretas e transgressoras que todo mundo canta e gosta, às vezes sem se dar conta de que em meio àquela linguagem simples, há muita filosofia e mensagens um tanto libertárias.  E escritas, na maioria, por uma mulher!  Não por acaso, também foi o primeiro a declarar publicamente a influência de Rita Lee.

“Kid Abelha é uma banda feminista”, postou Paula Toller outro dia no twiter para espanto geral.  Mas ela tem razão.  É um feminismo moderno, sem ranço, que não desagrada aos varões do grupo que fazem coro nas mensagens que passam pela autonomia feminina, a “não caretice” nos relacionamentos, fantasias e inversão de papéis sexuais na cama, chegando até mesmo ao polêmico tema do amor livre (caso da recente Poligamia, do último CD de estúdio do Kid, Pega vida), cantadas (e escritas) corajosamente por Paula, com música de George Israel.

Pois bem, nada como o tempo para colocar os pingos nos is.  O Kid acabou sendo um dos grupos nacionais que tiveram a maior longevidade, sem abrir mão do estilo consagrado logo no primeiro compacto de 1983, Pintura íntima.  O melodioso e marcante sax de George Israel, a voz doce e o vibrato de Paula Toller e, só pra contrariar o que pregava o hit Como eu quero, solos de guitarra para conquistar corações e mentes, a cargo de Bruno Fortunato.

Falando em Como eu quero, cuja gravação original não para de tocar desde o seu lançamento em 1984, ao longo dos anos, o Kid cultivou uma coleção de sucessos radiofônicos de fazer inveja a qualquer popstar.  Músicas que não ficaram presas a um perfil de rádios populares ou sofisticadas – são veiculadas em ambas.  O resultado disso é que seus produtos vendem muito, independente de o grupo estar fazendo shows, dando entrevistas ou aparecendo na TV.

Prazer redobrado

Paula, George e Bruno são unânimes em afirmar que este recesso de pouco mais de três anos – rompidos em setembro com uma apresentação para 30 mil pessoas em Tóquio, no Brazilian Day japonês – os fizeram ter um novo olhar do próprio trabalho.  “A saudade das pessoas de ver o show foi nos contaminando aos poucos”, explica George Israel.  “Nunca tínhamos passado tanto tempo sem tocar juntos.  Voltamos com uma visão mais generosa do nosso repertório e vamos apresentar isso ao público”.  Já Bruno Fortunato confessa:  “Ao contrário de George e Paula, que se dedicaram aos trabalhos-solo, fiquei esse tempo envolvido em projetos extra musicais, mas também participei de gravações em faixas de CDs de alguns amigos.  Agora tenho prazer redobrado em tocar”.

A banda de apoio está renovada, com músicos mais jovens para dar um combustível extra aos tarimbados kids que trazem uma novidade aos fãs, ávidos por sua volta:  seus hits, na maioria, estarão de volta com os arranjos originais.  “Tinha dúvida se esses arranjos com timbres bem 80´s ainda funcionariam no palco, mas depois dos ensaios e da pré-temporada, estou cada vez mais convencido que sim e que os fãs vão adorar”, diverte-se Bruno.

O Kid Abelha versão 2011 é assim:  puro deleite, festa e glamour.  “Vamos celebrar o que a gente construiu nesses quase 30 anos!”, conclui a abelha rainha.

Rodrigo Faour
Março/2011





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Concepção Geral e Textos:  Paula Toller
Desenvolvimento e Edição de Vídeo:  Luciana Moraes